segunda-feira, 1 de julho de 2013

O Dente-de-Leão nos campos da educação


Cláudia G. S. Rodrigues*

O substantivo semente sempre me remete ao verbo semear, verbo que traz o significado de trabalho, cuidado. O trabalho, ou melhor, a profissão de educadora me provoca este pensamento alegórico de plantio, semeadura…

Ao planejar o ano de 2013,quando buscava uma imagem que pudesse ilustrar minha proposta pedagógica de trabalho, veio-me a imagem de uma florzinha do campo que me dá o sentido de leveza, desprendimento; sem saber seu nome, busquei pela imagem e ao deparar-me com o seu significado encantei-me mais ainda, descobri que a florzinha do campo que quando criança brinquei de soprar ao vento e que anos depois, já adolescente, no inicio da carreira do magistério e trabalhando em escola de zona rural pude vê-la muitas vezes pelo caminho e ainda brincar, tem o nome de dente-de-leão e melhor, tem um significado muito interessante : liberdade,otimismo, esperança  e luz espiritual.

O dente-de-leão quando se desprende de seu caule e voa com o vento, leva suas sementes a campos onde germinarão; e exatamente por crer nos “ventos” atuais da educação que decidi criar uma analogia entre os meus projetos pedagógicos e a florzinha do campo.

Os campos da educação comum, regulada pela LDBEN 9394/96,estão sendo inseminados por sementes que às vezes chegam nos ventos da acolhida,dos desafios, da inclusão... muitos, ou quase todos os “jardineiros” (educadores) são pegos de surpresa; alguns tantos até questionam a lei,reclamam pois sentem-se despreparados para educar sem modelos; é preciso nos distanciarmos da “pedagogia da culpa”,pois o que não se sabe, pode-se aprender; ao nos apropriarmos dos conhecimentos que estão sendo construídos e veiculados de forma bastante democrática,edificaremos a “pedagogia do entusiasmo”.

Numa visão holística, podemos descrever os campos da educação como espaços de canteiros bem definidos onde toda semente que esteja destoando será arrancada como erva daninha; um campo de monocultura. Mas as sementes vêm no vento, nos bicos dos passarinhos, nas patinhas das abelhas e chegarão ao “campo comum” e relembrando que substantivos nos remetem a verbos que darão ação aos pensamentos,do cultivo buscaremos cultivar as novas teorias da aprendizagem;com experiência na área da educação, vamos experimentar novas formas de aprender e ensinar e a busca por respostas nos propõe buscar novos caminhos ou nova forma de caminhar...

Este é o desafio que me move na educação: campos de “rosas” recebendo sementes de “flores do campo”. Se o(a) jardineiro(a) só sabe cultivar rosas, é hora de aprender a lidar com outras flores; fazer outros arranjos florais e o dente-de-leão me remete à necessidade de aprender sobre a plasticidade cerebral ; sobre as características do trabalho de mediação ; entender e identificar a privação cultural ; compreender e acreditar que todos aprendem, apesar de...

A liberdade das sementes ao vento, o otimismo e esperança nas capacidades  das pessoas, inclusive  a minha e, principalmente  a fé ( crença naquilo em que não se vê) na intencionalidade e reciprocidade nos trabalhos de mediação pedagógica, são as forças que movem meu ideal de educação.

Creio e trabalho para que nos campos da educação, tenhamos todos os tipos de flores, vários canteiros formados e muitos jardins naturais a serem cultivados; que todas as flores tenham espaço  nas ornamentações;que as floriculturas tenham mercado para todas as formas e cores.

O meu, o nosso papel como educadores/mediadores/jardineiros, é o de acolher as várias sementes, semeá-las, cultivá-las e, no tempo certo, nos deliciarmos com a produção e assim realizar uma bela colheita.


* Professora, pedagoga, psicopedagoga e mestre em educação – Gestão Educativa

   Orientadora Educacional na ENSA - RSE Ponte Nova - MG



** Artigo publicado na revista Linha Direta – junho/2013 p. 34-5